O aparato cognitivo-emocional humano é tribal.
Nós evoluímos a partir de tribos e de bandos, com características de parentesco e reduzido contingente de indivíduos, que conviviam e sobreviviam graças ao comportamento tribal. Esse é acionado por instintos de proteção, de medo, de vingança, de alegria, de revolta, de amor, enfim.
A coesão grupal girava em torno de ideias e de crenças ligadas a mitos, a religiões e a percepções da realidade que eram tomadas como verdade.
Uma vez que havia uma série de conflitos entre diferentes tribos, os interesses e os instintos tribais de antagonismo a outros grupos eram fundamentais para a própria sobrevivência.
Esse comportamento tribal, caracterizado por tal tipo de pensamento primitivo, era um ponto de conservação e de continuidade.
No entanto, evoluímos para o “mundo contemporâneo”, e aparenta que involuímos no que concerne a questão de grupos e ao respectivo comportamento intra e inter-grupos.
Grupos de indivíduos, motivados por ideologias políticas, celebram cotidianamente barganhas do diabo, trocando suas almas, suas individualidades e suas liberdades por benefícios mundanos – e mesquinhos.
É evidente que há motivações psicológicas para tanto, já que em uma sociedade deficitária em nível de educação, de cultura e de discernimento, as pessoas procuram desesperadamente pertencimento, a fim de receberem afetos, sentirem-se “ativas”, e serem reconhecidas.
O tribalismo, anteriormente, era uma imposição, atualmente, uma escolha.
É axiomático que todo o indivíduo que age politicamente tem seus próprios interesses envolvidos. Porém, para agir, ele depende fortemente das motivações de outros.
Para influenciar na realidade, sujeitos se associam a outras pessoas com as quais possuem afinidades político-doutrinárias – entre outras – e passam a acreditar que suas ideias – verdadeiramente interesses – são mais adequadas às necessidades de um contexto social do que as ideias dos outros.
A partir dos movimentos do comportamento das massas e da ideologização, perdem-se não só a essencial e nobre liberdade individual, mas sobretudo, as capacidades de cognição e de reflexão lógica e racional em nível de individualidade.
Todos nós sabemos que a massa não pensa, ela segue ordenamentos e, factualmente, é manobrada por interesses de uma elite sedenta por poder.
Por sua vez, a ideologia constitui-se na própria negação do pensamento, tendo em vista que suprime não só o pensamento individual, mas especialmente a capacidade do agir próprio e original.
O comportamento de massa representa um movimento de retorno ao primitivismo tribal, em que sujeitos abrem mão de suas convicções e de seus valores, e se comportam como grupos irracionais que reagem aos instintos, sendo guiados por reflexos condicionados. Completa perda da individualidade e das virtudes da racionalidade e da lógica.
Essa barganha grupal com o diabo aprisiona a todos.
Conflitos de extremos de tipo “nós contra eles”, são embalados por ritmos tribais irracionais.
A massa não pensa! A complexa solução para este esdrúxulo quadro, terá que começar a ser construída (educação!) por individualidades capazes de praticar o raciocínio reflexivo e lógico.
Acho que a libertação vem justamente da retomada e do despertar da própria individualidade perdida.
Acredito piamente que se origina daquela verdade “interna”, que emerge da nossa “voz interior”.
Eu tenho certeza de que esta “verdade” está acessível a qualquer um de nós, bastando que passemos a nos preparar e a acreditar em nós mesmos. Mas e os outros? São os outros…
Não estamos mais submetidos as cavernas, e hoje, podemos nos libertar desse funcionamento mental primitivo, limitante e emburrecedor.
Entretanto, para saírmos da condição de “gados tribais”, é essencial cultivarmos nossa própria identidade, atentando para nossos objetivos e necessidades, a partir da confiança em nossas próprias capacidades de pensar e agir no mundo.
Pois é, tudo na vida consiste em custos e benefícios, e o diabo sempre volta para cobrar sua dívida.
Chegou a hora de desfazer o pacto com ele, e ser quem você é!