Qualquer reportagem decente – mesmo minimamente – que aborde presos em primeiro plano, que conte suas histórias, deve sempre relatar porque eles estão ali.
A história de um preso não começa na prisão, há um “antes” que o levou para lá.
Ao abordar seus crimes ou penas, não se trata de revitimizá-los, de aumentar o preconceito, ou de criar embaraços para que se ressocializem (os que podem e efetivamente querem).
O que me proponho é abordar apenas do ponto de vista jornalístico e de uma ética básica que compreende a comunicação social.
Estamos falando de como informar da melhor maneira possível o público, o leitor, o espectador, o consumidor de notícias.
Me refiro a RESPEITO por quem está do outro lado recebendo uma INFORMAÇÃO.
E nunca é demais lembrar: INFORMAÇÃO é coisa séria!
Dr. Dráuzio, Globo e Fantástico na reportagem sobre o estuprador e assassino Suzy violaram isso tudo, vendendo gato por lebre, fazendo as ovelhas chorarem pela história de um lobo sanguinário.
Vamos lá… Junto de qualquer história jornalisticamente relatada por quem perdeu a liberdade diante de uma falta grave, há dados que não podem faltar.
É elementar para a seriedade da comunicação, tão abalada – e não sem razão – na atualidade.
Que o preso conte eventuais violências que tenha sofrido, ou se falta espaço na cela, ou se a comida é azeda, tudo isso está dentro do script. Tudo certo. É inclusive saudável denunciar as distorções no ambiente prisional, para que possamos aprimorar os cárceres brasileiros, não raro, porões imundos e desumanos.
Mas agora estamos falando de outras coisas: verdade, critérios honestos e equilíbrio no tão importante ato de informar o público.
Por que ele está lá? Qual seu crime? Qual sua pena?
Todas as pessoas estão ali porque existe algo passado. A vida delas não começou agora. E se ali estão, confinadas, é porque existe um sistema jurídico, um sistema de proteção da própria sociedade, que foi violado e que prevê sanções.
No caso da Suzy, abraçada por Dráuzio ao reclamar do preconceito por ser trans, faltou contar o essencial: era um monstro que estuprou, matou estrangulado e escondeu o corpo de um menino de 9 anos.
Nas cadeias, assassinos de crianças e estupradores correm risco permanente, são jurados de morte, talvez isso explique o porquê de Susy não receber visitas. Há também um familiar dela que declarou querer distância por se tratar de um abusador violento.
Feio, muito feio. Antiético esconder isso, para dizer o mínimo.
Negar informações básicas ao espectador, deixar o consumidor de jornalismo no vazio, é negar o básico… ainda mais em tempos de inevitável fluidez da informação. As coisas aparecem rápido, como de fato apareceram.
E quem está sentado na poltrona vai percebendo que se tornou um idiota útil nas mãos de manipuladores midiáticos.
No caso em questão, centenas de crianças emocionadas foram incitadas a mandar cartas e chocolates para… um matador de crianças. É surreal!
O triste é que este tipo de manipulação pode, ao contrário do que parece querer, aumentar o preconceito com os transexuais. Muita gente vai tendo a impressão de que os crimes cometidos por eles são ocultados, abafados. Isso aumenta o sentimento de impotência e gera reações negativas.
Dráuzio Varella é conhecido por romantizar as histórias de presos, como se fossem anjos caídos do céu.
Desta vez foi longe demais.
Dráuzio e a Globo silenciaram sobre um facínora pedófilo, violador sexual e matador de uma criança.
Miguel de Unamuno certa vez disse: “há momentos em que silenciar é mentir”.
Silenciar sobre um monstro é a pior das mentiras.